terça-feira, 23 de setembro de 2008

I Encontro Nacional

Do dia 19 a 21 de setembro de 2008, treze frades leigos da formação permanente e cinco frades da formação inicial, oriundos da Província Santo Antônio, Província da Imaculada Conceição, Província Nossa Senhora da Assunção, Província Santa Cruz e da Fundação de Nossa Senhora de Fátima, estiveram reunidos na casa de encontros da Pequena Família Franciscana, no município de Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte.

Este foi o primeiro encontro de Irmãos leigos da CFMB. Cada uma das entidades representadas, entretanto, possui um histórico de encontros dos irmãos leigos nas suas próprias entidades, como a Província Santo Antônio, que mantém tais encontros desde 1957. Este primeiro encontro foi sediado pela Província Santa Cruz e contou com apoio da Conferência dos Frades Menores do Brasil, que esteve representada pelo seu Presidente, Frei Francisco Carvalho Neto. O encontro foi a realização de um anseio longamente presente.

Quatro foram os objetivos do encontro: celebrar a nossa vocação e os oitocentos anos da Ordem, fazendo memória dos nossos irmãos leigos que nos precederam e que mantiveram vivo o nosso carisma; partilhar a realidade da laicidade em cada entidade da CFMB; buscar pistas que possam nos ajudar a uma melhor compreensão da nossa identidade laical e do nosso papel na Ordem e na Igreja; discutir recomendações para o próximo Capítulo Geral em 2009.

Um dos temas estudados foi o documento “A identidade da Ordem Franciscana no momento da sua fundação”, publicado pela Conferência dos Ministros Gerais da Primeira Ordem e da TOR em 1999. Esse documento foi confrontado com a realidade de cada entidade e da Igreja onde estamos presentes. Do estudo desse documento surgiram algumas constatações fundamentais:
  • o documento fala de quatro tipos de institutos: laical, clerical, misto e indiferenciado;
  • Francisco pensava numa fraternidade indiferenciada em relação à condição do candidato;
  • dentro da nossa realidade, o Capítulo Geral de 1997 aprovou a moção em que, na hipótese da eleição de um irmão leigo como Ministro Geral, Provincial ou Custódio, o respectivo vigário deveria ser um irmão clérigo;
  • a questão fundamental não é o acesso a serviços de governo, mas de FIDELIDADE À NOSSA IDENTIDADE FRATERNA. Somos de origem mista: todos somos irmãos.

A título de conclusões do nosso encontro, as seguintes reflexões e pistas de atuação na área da formação, trabalho, pastoral vocacional e terminologia foram elencadas:

Formação / Itinerário formativo / Estudos / Projeto de Vida

Como se apresenta a questão?

  • A escolha e atuação de um irmão leigo é, normalmente, bem acolhida quando se trata de profissões úteis para o serviço interno da fraternidade ou de instituições da entidade; mas, é questionada quando seu exercício se concretiza no mundo do trabalho externo. Assim, não se entende o sentido da laicidade da sua vocação e seu testemunho no mundo do trabalho.
  • As nossas estruturas formativas no pós-noviciado giram, normalmente, em torno da formação dos candidatos clérigos, que são maioria. Por exemplo, o conteúdo acadêmico proposto, a localização das casas de formação próximas aos seminários, os horários e a programação da fraternidade, a atuação numa pastoral paroquial.
  • Na prática, não há uma proposta de formação franciscana sistemática e de qualidade, comum a todos os frades, no Pós-Noviciado.
  • O itinerário formativo profissional do frade leigo no pós-noviciado não é, a princípio, apresentado com clareza aos candidatos à vida franciscana.
  • Constata-se uma eclesiologia clerical dominante e, nesse contexto, é importante a prática de uma eclesiologia franciscana.

Pistas e encaminhamentos

  • Estabelecer, após o Noviciado, uma formação e um estudo franciscano interprovincial para todos os frades, com duração de 1 ano. Após essa formação, cada frade segue a sua formação específica, como clérigo ou como leigo.
  • As experiências de itinerários formativos que cada entidade da CFMB vem adotando para os frades leigos devem ser sistematizadas e apresentadas aos nossos candidatos.
  • É importante criar experiências de estágios não apenas paroquiais, mas, também, experiências de estágios na área da ação social e no mundo do trabalho.

Trabalho / Remuneração

Como se apresenta a questão?

  • Além dos trabalhos que são realizados ad intra, há, também, a realidade do trabalho remunerado, fora do espaço de nossas fraternidades. Entretanto, não há o reconhecimento e a valorização do trabalho desempenhado pelos frades fora das instituições das entidades. Raramente as nossas fraternidades se conformam e se adaptam aos horários de confrades que assumem essa realidade.
  • Há uma notória acomodação quanto à inserção no mundo do trabalho e, também, uma desconfiança velada em relação aos candidatos que manifestam o desejo de se formarem profissionalmente, principalmente em áreas que não vão ao encontro das necessidades internas das entidades.
  • A remuneração é importante, mas não é o aspecto essencial no trabalho dos frades.

Pistas e encaminhamentos

  • Busquem-se formas de sustento, não ligadas somente a atividades eclesiais, e que estas se dêem através do trabalho remunerado.
  • Assumir o mundo do trabalho como espaço concreto de nossa presença, testemunho e atuação.

Pastoral Vocacional / Terminologia

Como se apresenta a questão

  • Percentualmente, as vocações leigas na Ordem têm diminuído.
  • O povo cristão, de uma maneira geral, e os jovens, de uma maneira particular, desconhecem a figura do frade leigo. Se a pastoral vocacional franciscana apresenta a figura do “frade”, essa figura é entendida, normalmente, como um padre. Nesse contexto, a apresentação da figura do frade leigo torna-se uma tarefa prioritária para a nossa animação vocacional.
  • Na busca do ser frade, os candidatos à vida franciscana desejam saber o que eles irão fazer e em que irão atuar. Nesse momento, não há clareza na apresentação do itinerário e dos espaços de atuação do frade leigo na Província, na Igreja e na sociedade.

Pistas e encaminhamentos

  • Mostrar os aspectos da identidade fundacional da Ordem (p.e., o documento “A identidade da Ordem Franciscana no momento de sua fundação”) que valorizem o ser frade independente de sua vocação laical ou clerical.
  • Quanto à terminologia, eliminar de documentos e da linguagem da Ordem termos como: “frade não-clérigo”, “frades sem opção clerical”, “irmãos não-padres”. Adotar os termos “irmão leigo”, “irmão de opção laical”, “irmão de vocação laical”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Se as propostas deste encontro forem colocadas em pratica, a vida religiosa, com certeza, terá mais "Brilho".
Sou vocacionado franciscano, não pretendo ser sacerdote, mas já notei que a vida de um frade Leigo não é facil, isso me entristece muito....
Paz e bem!